9 de abril de 2015

A importância do chá na Índia e os pesticidas que tomamos

Descobri um trabalho fantástico do Greenpeace, que relata todo um estudo com chás produzidos na Índia por grandes indústrias e o resultado alarmante da alta quantidade de veneno (pesticidas perigosos desaprovados para uso em chá) encontrada na maior parte das amostras. Há informações muito relevantes sobre a importância do mundo do chá naquele país, uma parte do texto eu traduzi aqui, já que são dados que me interessam e que são difíceis de achar:

"A indústria do chá na Índia tem mais de 175 anos, com área de cultivo próximo a 1 milhão de hectares. O chá é produzido em plantações nas regiões norte e sul, principalmente nos estados de Assam, West Bengal, Tamil Nadu e Kerala, com as áreas de maior intensidade ao norte somando cerca de 3/4 da produção nacional. Em torno de 26% da terra pertence a pequenos produtores, em plantações de menos de 25 acres.

A Índia é o segundo maior produtor de chá no mundo, só perdendo para a China, e o quarto maior exportador, atrás de Quênia, China e Sri Lanka. As exportações de chá contribuem para o positivo balanço comercial. Além disso, o cultivo de chá é fonte de receita para os governos dos estados cultivadores e para o governo central através dos impostos. O total de exportações durante 2011-12 somaram 214 milhões de quilos.

Em conjunto com a importância para a economia indiana que as exportações representam, a maioria do chá lá produzido é consumido internamente. Do total de 1.2 milhões de toneladas produzidas em 2013, perto de 80% foi para consumo dentro do país.

Estima-se que a indústria do chá emprega mais de um milhão de pessoas diretamente. Muitas dessas são mulheres. Mais de seis milhões de trabalhadores tiram seu sustento indiretamente do chá, através de atividades derivadas, aí incluindo o turismo."




Como não cheguei a ler todo o material fiquei sem saber das informações mais detalhadamente. Mas o resumo está logo no início:

"Uma investigação feita pelo Greenpeace indiano encontrou perigosos pesticidas na maioria das amostras de chás empacotados*  das principais marcas produzidas e consumidas na Índia. Metade das amostras continham pesticidas que são 'desaprovados' para áreas de cultivo de chá ou que excediam o limite recomendado"

Em outros trechos lemos que "Na Índia, as duas principais marcas - Hindustan Unilever Limited, subsidiária da multinacional Unilever, e Tata Global Beverages Limited - dividem mais de 50% do mercado".

"Aproximadamente 94% das amostras de chá continham resíduos detectáveis de pelo menos um dos 34 ingredientes ativos de pesticidas"

"Aproximadamente 60% das amostras continham resíduos de pelo menos um ingrediente ativo de pesticida acima dos Níveis Máximos de Resíduos definidos pela União Europeia, com 37% das amostras excedendo esses limites em mais de 50%."

Quem se interessar e quiser ler o material completo, está disponível em PDF neste link: http://www.greenpeace.org/india/Global/india/image/2014/cocktail/download/TroubleBrewing.pdf

Há muitas informações sobre os tipos de pesticidas, quantidades encontradas, como isso afeta os trabalhadores e a saúde dos consumidores, além de ser um material muito bem escrito e apresentado (se todos apresentassem pesquisas de um jeito interessante assim o mundo seria mais culto).

E daí a gente se pergunta o quanto de veneno consumimos nas coisas que comemos. Se há pesticidas nos chás que produzem na Índia, há veneno também nestes chás que eu tenho aqui na minha casa? E aí na sua casa? E no café? E no tomate? E na couve-flor? Meio que sabemos a resposta, mas tentamos esquecer, não é?



*"package tea", provavelmente são chás em saquinho e os vendidos no varejo em pacotes de folhas soltas


1 de abril de 2015

Tomando chá: Gunpowder

Gunpowder. Assim é conhecido um chá verde chinês que é enrolado em pequenas "bolinhas" desiguais, que juntas se assemelham a grãos de pólvora (gunpowder, em inglês). É um tipo muito conhecido por ser fácil de identificar e ter um sabor característico.

Dá um bebida encorpada, e com um leve sabor defumado. Há informações de que a quantidade de cafeína deste chá é maior que a maioria dos outros verdes (entre 35-40 mg por xícara)*, mas isso é bem relativo. Uma das recomendações é tomá-lo logo de manhã, pra dar uma boa acordada. É bom pra tomar gelado e combina muito com menta, daí ele ser geralmente usado para o Moroccan Mint, que é a mistura desses dois ingredientes pra dar uma bebida ao mesmo tempo vigorosa e refrescante.

Gunpowder da Chá Yê

Um gunpowder de boa qualidade é formado por essas "bolinhas" não tão redondas, pequenas e um tanto lustrosas. O fato de ser enrolado (quando bem enrolado) faz com que o sabor fique guardado nas folhas por mais tempo, também evitando desgaste e a quebra. Nem todo chá enrolado é gunpowder, porém; há outros que também são assim finalizados, embora cada um tenha uma cara diferente.

Originário da província chinesa de Zhejiang, é produzido em massa sem muito controle, daí haver muitos exemplos de gunpowder terríveis por aí (no livro Tea sommelier a autora, Gabriella Lombardi, diz que tal chá é de "qualidade geralmente medíocre") . Eu ao longo dos meses ano passado fui juntando alguns gunpowders em casa. Aqui falo um pouquinho deles.

Whittard - você vê que é uma marca tradicional inglesa, pensa que deve ser um bom chá e compra. Daí você abre a latinha e percebe que mais da metade do chá são folhas quebradas, dobradas e amassadas, as enroladas mesmo são poucas. Dá um chá com menos sabor que os outros, e aparentemente com mais cafeína.

Vis Vitalis - você vê um pacote numa loja de produtos naturais, pensa que é mais uma daquelas porcarias que no Brasil chamam de chá, mas vê que é produzido na China e dá uma chance, achando que vai falar mal em seguida. Daí você prova e acha até muito decente, apesar de as folhas virem com alguns galhos (e até uma pedrinha) e a maioria mal enroladas. O sabor defumado não é muito evidente, mas dá um chá encorpado e honesto. Imagino que ele seja mais facilmente encontrável e tem um preço mais baixo que os outros.

Chá Yê - você vê que é um chá feito pelo mestre Xu Yong Hui, e, apesar de não fazer ideia de quem ele seja, acredita que deve fazer um bom produto. E daí você estava certo: é um ótimo chá, com as folhas realmente enroladas (com alguns galhos no meio, é verdade), sabor defumado característico que fica macio na boca. Depois de infusas as folhas se desenrolam e ficam inteiras, ao contrário dos outros, que desenrolam para mostrar que realmente todas as folhas são quebradas e colhidas sem maior cuidado.

Ali em cima temos uma foto mostrando em detalhe o formato das folhas enroladas do chá da Chá Yê, e aqui embaixo seguem as folhas das outras duas marcas:

Gunpowder da Whittard

Gunpowder da Vis Vitalis
O da Vis Vitalis, portanto, é uma ótima opção para quem quer começar a tomar chá verde com personalidade, que dura bastante, podendo aproveitar os benefícios da bebida sem gastar muito. O da Chá Yê tem todos os pontos positivos e ainda é feito com esmero, artesanalmente, e tem uma riqueza de sabor maior (e provavelmente mais nutrientes, já que tem folhas maiores e mais bem cuidadas).


* Dados sobre cafeína desta página: http://theteaspot.com/gunpowder-green-tea.html


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