19 de dezembro de 2016

Casas de chá em São Paulo: Bistrô Ó-Chá e The Gourmet Tea

Viajei mais uma vez a São Paulo e fui visitar algumas casas de chás e cafés. Não deu para ir em tudo que eu planejei porque no primeiro dia me empanturrei de chá e só fui nessas duas abaixo, em vez de ir também na Chá Yê e no King of the Fork; mas aqui temos então minhas impressões sobre onde eu fui:

- Bistrô Ó-Chá - sempre foi minha casa de chá preferida por lá, já falei dela aqui e deveria ter feito outro post ano passado, mas não fiz (nem sobre a Chá Yê, que eu visitei em 2015 também e merecia um post). Desta vez não foi tão boa a experiência, apesar da excelente comida, conforme abaixo:

a) fui almoçar e em nenhum lugar lembro de ter visto que eles só servem almoço a partir das 12:30h (e eu sigo eles no Instagram e todo dia tem foto dos pratos do almoço); chegamos um pouco antes das 12h e tivemos que esperar até o tal horário para fazer o pedido de almoço, o que não é exatamente ruim, mas né, horários claros nas divulgações são sempre bons - pra turistas então, que não estão com os horários mais largos do mundo, ainda melhor;



b) não tem cardápio escrito pro almoço, daí o atendente tinha que ficar te dizendo, de cor, todos as opções do dia: 2 entradas e 3 pratos principais, com descrição dos ingredientes; entendo que os pratos são diferentes a cada dia, mas imprimir umas folhas A4 é baratinho e facilitaria muito e deixaria o momento do pedido menos estranho (porque você tem que prestar atenção em tudo e se lembrar de tudo para fazer o seu pedido, daí você não lembra e tem que ficar perguntando) - mesmo escrever com um giz na parede já seria de grande ajuda (na saída vi que escreveram num quadro lá na entrada - quando entramos ainda não tinha, mas igual é na rua); se para nós foi meio complicado, imagina pra quem é estrangeiro e vai comer lá;




c) tem um cardápio enorme impresso de chás quentes, mas não tem nada escrito com os chás gelados disponíveis, o atendente, de novo, tem que ficar te dizendo as 5 ou 6 opções de blends disponíveis (e nenhum, aparentemente, é com chá de verdade, o que tirou um pouco da graça pra mim, mas os sabores disponíveis são bem interessantes);

d) foi R$ 42,00 o almoço, com uma entrada e um prato principal e uma sobremesa e um chá. Preço ótimo, mas a sobremesa era meio matada (MEIO muffin com sorvete);


e) achei que o atendimento pode melhorar; o atendente era meio displicente e a complicação toda de horário e cardápios fez a visita não ser tão legal, além de a criança pequena que estava com umas meninas ter começado a chorar em algum momento; criança chorando é um terror;

f) o arroz com lula, prato que eu pedi, era muito bom: um tempero sensacional;

g) eles servem chá em bule, o suficiente para umas três xícaras, então dá pra dividir se quiser.



Uma foto publicada por Ederson Nunes (@ederson_nunes) em

Saiba mais sobre o bistrô: http://www.bistroocha.com.br/ Ele fica na Rua Alpicuelta, 194. Pra chegar lá, desci na estação Fradique Coutinho e peguei um táxi, porque é um pouquinho longe e tem que ir subindo - obviamente, com muita disposição, se vai a pé.


- The Gourmet Tea - há três anos não ia aqui, fui lá conferir como andam (post anterior aqui). Mais ou menos da mesma forma: é um lugar com cara moderna, colorido, que tem ainda os mesmos sabores de chás (já devo ter provado todos que me interessavam, os que não me interessavam continuam não me interessando).


Pedi um petit gateau pra comer, que veio numa apresentação diferente: o bolinho totalmente coberto pelo sorvete; ele se diz "artesanal" em toda parte no cardápio, mas o sorvete era um pouco duro (não dava pra cortar com a colher sem apertar e transbordar o potinho) e o bolinho um tanto doce demais.



O atendimento foi bom, são simpáticos. Tudo certo, é agradável, tem boa variedade de bebidas, mas não me dá aquele "oh que bom, quero voltar". Eles têm o sistema de você preparar o chá na mesa, o que é charmoso, mas colocando o chá em cima da água (e não o contrário) deve ocasionar algumas infusões mal feitas, por causa da tensão superficial (no meu caso, pedi uma infusão de mate, que é bem picotadinho, deu tudo certo).



Saiba mais sobre a casa: http://www.thegourmettea.com.br/ (esta que eu fui é uma das unidades - a primeira, na Rua Matheus Grou, 89. Tem outras em outros lugares).


Aproveitando, falo que nesses três anos o bairro (Pinheiros) mudou bastante. Agora tem novas estações de metrô e as ruas todas se transformaram em uma concentração de comércio hipster - não tem uma farmácia (não achei mesmo, estava procurando e andei bastante), mas você tropeça em qualquer coisa "gourmet" a cada 10 passos.

24 de novembro de 2016

Chaleira elétrica Arno Gaúcha

Eu usava uma chaleira elétrica com controle de temperatura da Philips, a HD 4631, comprada no Uruguai, era de fabricação argentina e pensada para quem fosse fazer chimarrão (na caixa, inclusive, havia uma foto de uma cuia de "mate") - isso porque a temperatura ideal para a água do chimarrão é em torno dos 75ºC, como já falei aqui no blog.

Essa HD 4631 é bonita, robusta, faz um trabalho ótimo e tem 3 temperaturas: uns 75ºC, uns 90ºC e 100ºC. Recomendo.

Ela estragou depois de mais de 3 anos de uso, e, como não iria ao Uruguai só pra comprar uma, me dediquei à tarefa mais complicada: encontrar uma chaleira elétrica com controle de temperatura no Brasil (isso e um moedor de grão de café decente são artigos raros por aqui). A única que achei, com tamanho bom e valor comprável, foi uma da Arno, chamada de Gauchá (risos).

Pois sim, com este nome, novamente ele é um produto voltado a quem quer fazer chimarrão - e chá, suponho. No manual diz que ela deveria ter também três temperaturas: 75ºC, 85°C e 100ºC.

No entanto, já achamos algo que não está certo quando vemos a caixa. Na verdade, ela não se chama Gauchá, como está em todo lugar na internet, inclusive nas fotos. Ela vem com o acento em outro lugar e se chama Gaúcha.


Tudo bem, eliminaram o trocadilho. Só que a problemática toda é o controle de temperatura dela. Não é bom. Fiz as medições de temperatura e temos assim: na posição inicial do botão ela aquece a água a 85ºC; na posição do meio não faz nenhuma diferença, porque fica sempre igual à inicial; e na posição final ela ferve.

Então temos um produto que promete três, dá dois e ainda com a temperatura errada. Vejam que a temperatura ultrapassa o ideal para o chimarrão, assim sendo irônico que ela se chame "gaúcha" mesmo.

Não recomendo. Infelizmente o valor dela não é dos mais baixos (custou R$ 148,00 na Ricardo Eletro, lugar com preço mais barato, nos outros sites era mais de R$ 170,00), e não me liguei no defeito das temperaturas até um tempo depois de comprada (não estava fazendo chás com ela, porque ela fica no meu trabalho).

Com o nome Gauchá, como estava nos sites de vendas todos quando comprei
Enfim, dá pra usar, mas naquelas. Esses dias inclusive li um texto sobre como muitas coisas no Brasil são assim: ah, dá pra usar, não é tão bom, mas vamos levando.

Veja o que diz no manual:



21 de novembro de 2016

Provando chás verdes Yamamotoyama

Estou eu aqui com alguns chás Yamamotoyama para escrever a respeito há um tempo, e nunca me arranjava tempo e disposição para provar, anotar, testar, fotografar. Eis que a disposição chega e então vamos à luta.

A Yamamotoyama do Brasil é uma empresa brasileira, com cultivo dos chás no interior de São Paulo, assim como outras marcas das quais já falei aqui (Amaya e Obaatian). Até pouco tempo, era a única que produzia chá verde decente em solo brasileiro, agora a Amaya está se propondo a isso também - embora a maior experiência, técnica e variedade de tipos ainda deixem a Yamamotoyama  bem na frente.


O site deles é bem bom em explicações, você pode visitar lá e saber que "em 1970, foi fundada em Tapiraí, Estado de São Paulo, a empresa Green Tea, predecessora da Yamamotoyama do Brasil", entre outros detalhes da empresa.

Eles me enviaram três tipos de chás para eu provar, logo abaixo falo sobre cada um deles. São todos verdes - eles só produzem chá verde e um chá branco. As instruções de preparo são as mesmas para todos, e são um pouco confusas (pedem para colocar as folhas em uma chaleira - o que pode parecer que é pra fazer cocção e não infusão - e depois despejar "a água fervida", mas não disseram pra ferver a água) mas, enfim, imaginei o que eles estava querendo dizer e preparei todos do mesmo jeito: utilizei em torno de dois gramas de chá para uma xícara de 210 ml, o que dá uma colher de chá bem cheia de folhas, ou duas rasas; coloquei água quente, em uma temperatura de aproximadamente 80ºC, e deixei por dois minutos (água boa para chá verde é entre 80ºC e 85°C, geralmente; é só desligar quando começar a querer se formar borbulhas grandes no funda da chaleira, ou deixar ferver e aguardar uns dois a três minutos antes de colocar no chá). Nestes chás o tempo e a temperatura são importantes, pois amargam fácil, é bom se ligar se não quiser ficar com uma infusão ruim na sua xícara. O resultado temos a seguir:



- Guenmaicha - é o tradicional chá japonês com arroz torrado (foto mais abaixo). Uma diferença deste chá Yamamotoyama é que os outros guenmaichas que eu conheço vêm com os grãos de arroz no estilo "flocos", alguns até com os flocos estourados como pipocas (veja aqui um exemplo), e este aqui vem com o que parece mesmo arroz cru torrado. É bom, suave, com o característico sabor tostado do arroz, e o chá sem ser amargo, dando uma infusão verde claro - neste caso, é uma mistura muito acertada de sencha com bancha, resultando numa bebida leve mas marcante. Guenmaicha acho uma boa opção para acompanhar uma refeição ou pra dar aquela esquentada num dia frio. Diz no site deles que contém matcha também (o que explica o pozinho verde que cobre as folhas e a cor mais viva da infusão), não sei por que não está escrito isso grande na embalagem, pois é algo que chama a atenção do público, mas para o sabor não faz muita diferença (já havia provado um guenmaicha do Japão mesmo com matcha, e o sabor é parecido demais com o sem matcha).

Nota do Chato dos Chás: 4 de 5 (sabor marcante e leve, sem amargar)

- Bancha torrado - Segundo eles, "é o bancha passado pela máquina de torrefação depois de pronto". Gosto bastante, tem um sabor marcante, que parece alguns oolongs mais oxidados que já provei (especialmente o Butterfly), não é pesado e, diz a marca, tem pouca cafeína. A cor da infusão é um marrom claro bem transparente. As folhas são amarronzadas também, com aroma forte de tosta. Ele amarga com facilidade, então se deixar um pouco além do tempo já fica com uma bebida menos agradável (se ficar um pozinho no fundo depois de coado, pode crer que o final da xícara estará com amargor).

Quero aqui fazer uma observação: na embalagem deste Bancha, ele tem a identificação "chá verde torrado", o que leva pessoas a crerem que banchá é chá verde torrado, mas não é; banchá é um tipo de chá verde, como já falei num post aqui. Neste caso, ele é torrado, e a mesma marca tem um outro banchá que não é torrado. Mais claro seria que a identificação na caixa fosse mesmo Bancha Torrado.

Nota do Chato dos Chás: 3,5 de 5 (porque amarga fácil, acaba ficando uma bebiba menos boa no final da xícara, onde está o pozinho  que passou do coador)

Atualização: fui alertado nos comentários sobre o fato de as embalagens trazerem os nomes dos chás em japonês, e a do banchá dizer "houjicha", que é exatamente um chá verde torrado (geralmente bancha mesmo).

- Orgânico - É o que eu mais tomei, porque gosto da proposta deles de fazer um chá orgânico e queria alguma possibilidade de gostar dele porque estava difícil. Segundo a marca, o chá está "na sua forma natural, sem efetuar processos como seleção e processos industriais", daí não acho que vale a pena, já que o que dá o sabor e a característica de cada chá é o modo como é selecionado e processado (além do modo como foi cultivado), se você só vai colher e vender, é como tomar o chá que sua vizinha hippie plantou na hortinha da sacada e não vai ficar legal - pode ser até uma proposta linda, mas não é assim que funciona um bom chá (e estou falando de chá de Cammelia Sinensis, não de infusão de ervas, que daí pode sim funcionar o "colher e ferver"). Pois não ficou legal mesmo. É o chá com menos sabor e menos profundidade sensorial: ou você faz e ele fica quase sem gosto ou ele fica amargo demais (demais!). Se deixar um pouco mais que dois minutos, ou se colocar água muito quente ou se ficar um pozinho no fundo depois de coado (sempre fica), pode crer que a bebida vai ficar muito amarga e desagradável. Aqui eu lembro: chá verde não tem que ser amargo e desagradável!

Nota do Chato dos Chás: 1 de 5 (porque não adianta ter uma proposta boa - e não digo que ser não-selecionado e não processado é bom, mas sim ser orgânico -, tem que ser um bom chá)



Eles produzem alguns chás de provável maior qualidade, como o sencha e o sincha, estes ainda não provei. Já havia tomado muito antigamente o chá verde mais comum deles, que vendem em pacotes de plástico em vários lugares, e ele era bem bom na época que tomei (falei um pouco dele em um post sobre amostras).

Para saber onde comprar chás Yamamotoyama, visite o site deles, lá tem uma página para indicar locais de venda (em Porto Alegre, o verde simples do saco plástico se acha com alguma facilidade no Mercado Público).

Site da marca: http://www.yamamotoyama.com.br


6 de junho de 2016

Provando o Obaatian - o Chá da Vovó

Se houve uma surpresa pra mim nos últimos meses no mundo dos chás, foi a descoberta do Obaatian, o Chá da Vovó. Já conhecia ele em um blend da Infusorina (já resenhado aqui no blog), mas não tinha tomado puro. A produção de chá de qualidade no Brasil é bastante escassa e raros são os que se destacam como chás realmente bons de saborear. Este é um deles. (Já falei aqui sobre o chá preto Amaya também e quero falar futuramente sobre os Yamamotoyama).


Dona Ume Shimada no chazal | Foto de Luci Judice Yizima/Jornal Nippak


O chá é produzido pela dona Ume Shimada e sua família, em Registro, interior de São Paulo. "80 anos nas costas da vovó Shimada não foram suficientes para abalar o ânimo dessa senhora. Arregaçou as mangas para recuperar a plantação de chá em seu terreno, e com a ajuda de sua filha, Teresinha, levantou uma pequena fábrica de chá artesanal. Com carinho e dedicação, o Sítio Shimada hoje produz seu próprio chá preto puro de qualidade, na tradicional região do Vale do Ribeira." Assim nos é apresentado o chá no site da empresa, uma belezinha.

Leia abaixo trecho da matéria do Jornal Nippak, que tem boas fotos também: "De acordo com a dona Ume, por dia são colhidos 20 quilos de brotos de chá, toda a produção do chá é feita manualmente por ela. Os chás são feitos de brotos e folhas recém-emergidas, colhidas manualmente a cada duas ou três semanas de setembro a maio. Em três meses tem nova safra. Após a colheita, as folhas são espalhadas em grandes bandejas e deixadas para secar por períodos de tempo variados."

Quanto ao chá, é um preto artesanal lindo, de folhas grandes levemente torcidas, cheiroso, com sabor extenso, complexo, lembrando os bons chás chineses de que já falei muito aqui no blog. Suave e marcante, fica pronto em um minuto apenas - instrução muito acertada da embalagem; na embalagem, aliás, temos a data de colheita do chá que estamos tomando, o que é uma informação importante pra quem gosta de saber.




Tenho grande apreço a este chá e dou minha total recomendação. Se tivesse que escolher alguns chás pra levar pra uma ilha deserta, este seria um deles (não sei como eu ia preparar chá em uma ilha deserta, mas, né, é só imaginação).

No site da marca saiba onde encontrá-lo: www.obaatian.com.br

Online você pode comprá-lo com a Infusorina: www.infusorina.com.br

A Yuri, do blog Chá, Arte e Vida, visitou a fazenda e fez um post mostrando o processamento artesanal do chá: chaarteevida.blogspot.com.br/2015/11/visitando-as-fazendas-de-cha-no-brasil.html


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